Enquanto muitos na Rússia temem que o número de mortos é muito superior ao número oficial, os necrotérios estão lotados e o crematório da capital russa trabalha todos os dias em três turnos, segundo funcionários.
Em Mitino, no noroeste de Moscou, uma nota no crematório advertia que a entidade já não aceitava novos pedidos de cremação.
"Desde que começou esse pesadelo de calor... houve um drástico aumento de funerais nos últimos dois meses, duas ou três vezes acima da média", disse um funcionário do cemitério.
A pergunta sobre o número real de mortes se tornou um problema político para os moscovitas à medida que o calor intenso registra novos recordes de temperatura quase todos os dias e uma espessa camada de fumaça dos incêndios florestais atinge a cidade.
Não há estatísticas sobre Moscou, mas os meios de comunicação indicaram que os paramédicos da capital não colocam "golpe de calor" como causa das mortes nas declarações de óbito "para evitar o pânico".
O chefe do Departamento de Saúde municipal, Andrei Seltsovsky, disse nesta segunda-feira que as mortes quase duplicaram a 700 por dia, com o calor sendo o principal motivo.
O Ministério da Saúde criticou Seltsovsky, dizendo que estava "intrigado com estes números não oficiais" e que na verdade, a taxa de mortalidade de Moscou caiu entre janeiro e junho.
COLAPSO NOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Irina, uma mulher de meia idade, esperava no sobrecarregado necrotério de Moscou para obter a certidão de óbito que permitirá o enterro de sua mãe, que morreu por causa do calor severo.
"Minha mãe de 70 anos morreu com esse calor", disse a mulher. "Ela esteve se sentindo mal por semanas, mas a ambulância se negou a buscá-la, alegando que todos os hospitais estavam cheios. Agora, ela está morta e tampouco há espaço no necrotério", acrescentou.
Um médico disse a Irina que sua mãe morreu de um ataque cardíaco provocado pelo calor, mas não incluiu isso na declaração de óbito, segundo ela.
Natalya, de 43 anos, chorava no necrotério, também congestionado, de um hospital à espera dos documentos para enterrar seu pai que morreu de infarto pela pior onda de calor que atinge Moscou desde que as temperaturas começaram a ser medidas, há 130 anos.
"Meu pai morreu na rua. Foi comprar pão e desmaiou. A ambulância demorou horas para chegar e passei todo esse tempo ao seu lado", disse Natalya.
O necrotério do hospital 62, com capacidade para armazenar 35 corpos, foi sobrecarregado desde que começou a onda de calor em junho, disse um assistente.
"Hoje temos 80 corpos. Nós os armazenamos em qualquer lugar porque os refrigeradores estão cheios", disse à Reuters.
Uma funerária próxima estava cheia de gente tentando organizar a cerimônia fúnebre.
(Reportagem adicional de Nastassia Astrasheuskaya)
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