A LINGUAGEM EM GUIMARÃES ROSA E A ASTROLOGIA
"Um trabalho acadêmico a respeito de um conto do livro Corpo de Baile identifica o uso de dados astrológicos em sua composição: Recado astrológico: o baile de João Guimarães Rosa de Daniela Severo de Souza Scheifler.
Neste artigo, a autora faz um estudo a respeito dos nomes das personagens e indica possíveis delas e de suas histórias aos planetas astrológicos.
A história descreve uma viagem de um grupo de pessoas de ida e volta pelo sertão, tendo à frente como guia, um homem conhecedor da região. Em meio a essa viagem, há um aviso de morte por traição dado pelo morro, que vai se desdobrando entre outras personagens, recontada sete vezes, até que é musicada e, finalmente, entendida por Pedro.
O grupo passa por sete fazendas cujos donos apresentam nomes e características ligados aos planetas astrológicos: Jove (Júpiter), Vininha (Vênus), Nhô Hermes (Mercúrio), Nhá Selena (Lua), Marciano (Marte), Apolinári (Apolo - Sol) e Seo Juca Saturnino (Saturno).
A geografia do Morro da Garça e a paisagem sertaneja juntam-se a eesas histórias. Mas, além desses elementos pode haver outros a serem explorados. Podemos ir muito mais longe. Francis Uteza, autor alemão de A Metafísica de O Grande Sertão de GR, cita o autor mineiro: "/.../ eu gosto de apoio, o apoio é necessário para a transcendência. Mas, quanto mais estou apoiando, quanto mais realista sou, você desconfie. Aí é que está o degrau para a ascensão, o trampolim para o salto".
O próprio autor nos avisa quanto a suas intenções:a reslidade e a transcendência estão presentes nos textos. E a linguagem pode ser o instrumento e a chave para tal compreensão. Em entrevista a um crítico alemão de 1965, em Gênova, Guimarães Rosa diz " o idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanhas de cinzas". É o estudioso alemão que nos explica m,ais a esse respeito.
Segundo Uteza, somente a partir da "elucidação dos enigmas lingüísticos" de sua língua fluida e musical "se poderá ter acesso ao conteúdo ´metafísico-religioso´que se encontra oculto em sua obra". Portanto, os elementos de sua visão metafísica não são claramente expressos. Ao contrário, etão cifrados em sua particular expressão lingüística que é um corpo físico e concreto, o lugar em que se apresenta o transcendente.
Tanto em ua obra-prima como no conto que nos interessa, encontramos essa visão maior da questão humana: a metafísica. A perspectiva de uma geografia e experiência local e regionalista é somente o ponto de partida. A viagem pelo Morro da Garça, o lado realista do texto, é também uma representação astrológica da caminhada humana. A geografia do sertão se cruza em algum ponto com um tempo que ganha contornos míticos. Esse ponto seja talvez a linguagem ou "a porta para o infinito", como queria Guimarães Rosa.
Nesse conto, os elementos naturais conspiram para que o destino humano se cumpra. É o morro que fala e cuida do herói. A decifração do enigmático recado e a resolução pelo confronto humano libera o herói para andar por grandes espaços livre e senhor do mundo: "Daí com medo de crime, esquipou, mesmo com a noite, abriu grandes pernas. Mediu o mundo. Por tantas serras, pulando de estrela em estrela, até os seus Gerais.".
Esta frase final do conto refere-se às ações da personagem pós resolução do conflito? Ou é a ação atemporal, mítica, efetivada por Pedro - e por todos os heróis - em meio a seu contexto e as estrelas?
Reconheço as múltiplas possibilidades de leitura em Guimarães Rosa. A elaboração dos nomes e a simbologia das estrelas e do céu, numa relação explícita com a astrologia, é uma das grandezas desse conto. Mas, a pergunta inicial só fo parcialmente respondida, pois há muitas outras informações interessantes a respeito da metafísica roseana. Voltaremos ao assunto. Conto com a sua companhia nesta investigação."
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