quarta-feira, 3 de abril de 2013

O QUE NÃO É ASTROLOGIA




COISAS QUE VÃO CONTRA A ASTROLOGIA
 Por Otávio Azevedo






O excerto abaixo foi extraído de uma coluna sobre astrologia de um jornal português publicada em janeiro de 2013:

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“Os planetas influenciam não só as pessoas, como todos os seres vivos e toda matéria orgânica do sistema solar. Além do efeito gravitacional, cada planeta emana uma energia distinta como se fosse o refletor de uma determinada luz do espectro solar, uma espécie de foco eletromagnético e radioativo que interage com todas as partes do sistema.
(...) Em astrologia, um planeta emite uma energia muito própria que se traduz numa tipologia comportamental quando relacionamos esse planeta com a estrutura da psique. .”
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Trata-se de uma afirmação pujante que pode impressionar quem não tem familiaridade com métodos e teorias científicas. E muitos que iniciam o estudo da astrologia se encontram nesse caso.

De um modo geral, a ânsia de interpretar o esquema simbólico de uma carta natal faz com que os que iniciam nesse estudo saltem sobre a base filosófica que sustenta a astrologia, mas isso, por si só, não seria um problema. Um mecânico pode consertar muito bem um carro sem que tenha conhecimentos básicos sobre a física ou mecânica newtoniana. Um trapezista pode executar lindos movimentos no trapézio sem a necessidade de conhecer as leis da cinemática. Da mesma forma, um astrólogo pode trabalhar muito bem com a astrologia sem que conheça seus fundamentos. O problema começa quando o mecânico, o trapezista, o astrólogo, etc – na tentativa, talvez, de passar uma aura de credibilidade e glamour aos seus ofícios – tentam elaborar uma teoria sobre aquilo que na prática executam muito bem, mas que nos fundamentos filosóficos e conceituais desconhecem. É nesse ponto onde podem cometer algumas barbaridades... E isso é, de certa forma, usual no meio astrológico.

Aqueles que lidam com a astrologia se vêem constantemente diante das dúvidas e ironias dos incrédulos e alguns acabam assumindo o desafio de convencer (ou converter) os leigos sobre a validade do saber astrológico... Tem-se aí um campo bastante propício à criação de teorias escalafobéticas, totalmente improváveis, revestidas de uma aura “científica” misturada a axiomas herméticos com salpicadas de holografia e mais alguns temperos energéticos e quânticos que formam um caldo de esquisitices onde tudo pode ser afirmado sem que nada possa ser provado... Como na citação acima, que não é passível de ser comprovada por método algum, pelo menos nos dias de hoje.

Tenho uma forma de verificar quando alguém não sabe exatamente o que é a astrologia em sua essência e faz questão de deixar isso claro: é quando fala com desenvoltura em “influência dos astros”, coisas do tipo “os planetas inclinam mas não obrigam” ou, melhor ainda, de certas “energias advindas dos planetas” que fazem acontecer coisas e provocam certos temperamentos nas pessoas - em todos os casos sugerindo um elo causal entre os planetas do Sistema Solar e os acontecimentos aqui na Terra.

No meu modo de ver, nos dias de hoje nada prejudica mais a astrologia, na sua sofrida trajetória de afirmação como um saber válido e precioso, do que essa tentativa inglória de torná-la “mais bela e aceitável” através de explicações equivocadas via “energias” e “influências planetárias”, misturando-se vários ingredientes incompatíveis numa inacreditável sopa de baboseiras que só fazem por desacreditá-la e torná-la cada vez mais parecida àquilo que se chama de charlatanismo. A astrologia não merece isso, muito menos vindo do seu próprio meio, mesmo que sob nobres intenções de fazê-la parecer uma “linda moça”. Vamos repetir a citação:




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Além do efeito gravitacional, cada planeta emana uma energia distinta como se fosse o refletor de uma determinada luz do espectro solar, uma espécie de foco eletromagnético e radioativo que interage com todas as partes do sistema.”
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Uma pessoa lógica e com alguma base em metodologias científicas poderia fazer várias perguntas sobre esse excerto, por exemplo:

Onde se encontra a comprovação dessa afirmativa? Como foi provada? Que teoria científica a sustenta, já que estamos falando de forças e energias, que estão sob a égide da ciência? Trata-se de Física Quântica, Teoria da Relatividade, Teoria M, Teoria das Cordas, Teoria dos Campos Morfogenéticos, afinal, o que corrobora isso? E se isso fosse mesmo verdade, porque entram no jogo apenas os planetas e não cada estrela, buraco negro, nebulosa, galáxia, asteróide, poeira cósmica, alien, satélites, etc, colocando o universo inteiro na parada? Ou seja, se os planetas influenciam, então porque o resto do cosmo inteiro não entra na jogada? E tudo isso não teria que estar nos mapas natais? E se a atração gravitacional fosse importante, então Plutão teria uma “influência” bem menor que o médico parteiro do bebê, cuja atração gravitacional é muito maior sobre o recém nascido, e, portanto, deveria constar no mapa, assim como o anestesista, a enfermeira, etc. Se o que está em jogo é algum tipo de “energia”, teremos que incluir tudo isso no mapa porque a energia está em tudo, seja gravitacional, eletromagnética, radioativa ou lá o que for.

Enfim, fica claro que a afirmativa acima não tem nenhuma sustentação científica, esotérica, causal ou casual. Não é possível de ser confirmada por nenhum tipo de verificação, seja por algum artefato ultra-moderno ou órgão dos sentidos, sejam estes últimos físicos ou extra-físicos. Na verdade, a afirmação acima é uma construção para justificar a astrologia usando uma terminologia pretensamente científica e torná-la “aceitável” nos dias de hoje.

Mais adiante, o mesmo artigo parece querer buscar alguma ancoragem no poeta, filósofo e escritor português Fernando Pessoa, ao afirmar:

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“Não foi por acaso que Fernando Pessoa, num dos seus ensaios inéditos, designa a astrologia como a “Ciência das Ciências”
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Realmente não é de hoje que se vê essa tentativa de tornar a astrologia a “ciência das ciências” como cita esse artigo, que atribui esse epíteto a um comentário de Fernando Pessoa. Respeitando a obra poética e o conhecimento astrológico de Fernando Pessoa, este célebre autor não teria estatura astrológica para figurar numa referência de mestres ou autores que verdadeiramente contribuíram para o avanço e entendimento da astrologia. Até mesmo porque, se assim fosse, teria que dedicar boa parte de sua vida única e exclusivamente ao estudo e prática da astrologia, o que não foi o caso. Assim, por vezes, cita-se Fernando Pessoa – escritor, poeta, filósofo - como referência para a astrologia, quando deveria ser citado apenas como um admirador e praticante eventual. Analogamente, Einstein gostava da “Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky (dizem que era seu livro de cabeceira) mas seria absurdo citá-lo como referência sobre ocultismo, ou insinuar que a simples apreciação de Einstein pelo ocultismo fosse prova “científica” das teorias expostas na Doutrina Secreta. Mas muitos pegam essa trilha equivocada, tentando ancorar suas próprias conclusões, muitas vezes equivocadas, em fontes de notório saber – mas que não serviriam como referência no campo em questão – e pretendendo, dessa forma, colher algum traço de aceitação e credibilidade naquilo que tentam alegar.



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