"É um mestre sufi do século XIV que ensinava através de histórias e anedotas, que se assemelham de alguma forma as histórias zen pelo seu desfecho paradoxal, inesperado e com um toque de humor."
Diz a lenda que devem ser contadas de sete em sete...
I - PARECE SER TU
Na praça do mercado, Nasrudin recitava, profundamente absorto:
"Ó amada,
Meu ser interior está tão repleto de ti,
Que tudo o que se apresenta à minha visão.
Parece ser tu!"
Um engraçadinho então gritou:
- E se quem se apresenta à sua visão é um imbecil?
O Mullá, respondeu, como se recitasse um estrinilho:
Parece ser tu!
II- A recompensa
O sábio tinha uma boa notícia para transmitir ao rei. Embora por tradição qualquer súdito tivesse acesso à corte; só depois de muita dificuldade ele conseguiu falar com o soberano.
O rei ficou extremamente contente com a notícia recebida, e perguntou, afinal, o que Nasrudin desejava ganhar como recompensa.
— Cinquenta chicotadas, foi a resposta.
O rei, naturalmente, ficou surpreso. Mesmo assim, chamou o homem do chicote e determinou que o desejo de Nasrudin fosse atendido. Os golpes começaram. Quando soou a 25ª chicotada, Nasrudin, ofegante, gritou:
— Pare! Agora, por favor, majestade, traga o meu sócio e dê a ele a outra metade da recompensa.
— Como? Que sócio?, perguntou o rei. — Majestade, explicou Nasrudin, o seu chefe de gabinete sabe que eu sou um homem de palavra, e só marcou esta audiência depois que eu aceitei prometer solenemente que daria a ele a metade de qualquer recompensa que recebesse pela boa notícia trazida.
E o rei mandou executar o que Nasrudin pediu.
III - QUANDO O BURRO SUMIU
Certo dia, vieram avisar:
- Mullá, seu burro desapareceu.
Depois de pensar um pouco, Nasrudin respondeu: graças a Deus eu não estava montado nele, senão teria sumido também.
IV - O Sermão de Nasrudin
Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma peça em Nasrudin. Já que era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita. Ele concordou.
Chegado o tal dia, Nasrudin subiu ao púlpito e falou:
"Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer?"
"Não, não sabemos", responderam em uníssono.
"Enquanto não saibam, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isso é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja", disse o Mullá, profundamente indignado por aquele povo ignorante fazê-lo perder seu tempo.
Desceu do púlpito e foi para casa.
Um tanto vexados, seguiram em comissão para, mais uma vez, pedir a Nasrudin fazer um sermão na sexta-feira seguinte, dia de oração.
Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes.
Desta vez, a congregação respondeu numa única voz:
"Sim, sabemos".
"Neste caso", disse o Mullá, "não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora." E voltou para casa.
Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta de antes.
"Sabem ou não sabem?"
A congregação estava preparada.
"Alguns sabem, outros não."
"Excelente", disse Nasrudin, "então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimentos àqueles que não sabem."
E foi para casa.
V- SEGUNDO A LEI DE DEUS
Nasrudin encontrou, na rua, um grupo de meninos que brigavam porque tinham encontado uma cesta cheia de maçãs e não conseguiam fazer uma divisão justa para todos. O Mullá foi convidado a assumir o papel de mediador e juiz.
Antes de fazer a divisão, ele perguntou aos garotos:
– Vocês querem que eu divida pela Lei dos homens ou pela Lei de Deus?
Os meninos responderam:
– Pela Lei de Deus, claro.
Nasrudin, então deu três maçãs a um, cinco a outro, duas a àquele lá, quatro ao vizinho e deixou o restante sem nada.
Os que não receberam nada, reclamaram:
– Mullá, que tipo de lei é essa?
– Esta, meus filhos, é a Lei de Deus. Se vocês tivessem escolhido a Lei dos homens, o resultado teria sido bem diferente.
VI - EM MIM
Um monge disse a Nasrudin: "Sou tão desapegado que nunca penso em mim, só nos outros".
Nasrudin respondeu: "Sou tão objetivo que posso ver-me como se eu fosse outra pessoa; assim, sou capaz de pensar em mim".
VII - O ANÚNCIO
Nasrudin postou-se na praça do mercado e dirigiu-se à mutidão: "Ó povo deste lugar! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacrifício ?"
(Poderíamos colocar: vida sem morte, morte sem vida, transformação da consciência sem a consciência da transformação)
Logo juntou-se um grande número de pessoas, com todo mundo gritando: "Queremos, queremos!"
"Excelente !, disse o Mullá. "Era só para saber". Podem confiar em mim, que lhes contarei tudo a respeito, caso algum dia descubra algo assim."
#########################################################
Nenhum comentário:
Postar um comentário